Mantive contacto com os meus colegas, amigos e familiares através das redes sociais (Facebook e Twitter) e, alguns, através de email. As comunicações de voz fixa e móvel não respondiam às solicitações.
Em 3 dias registaram-se mais de 400 sismos de distintas intensidades, alguns dos meus amigos abandonaram os seus apartamentos que se moviam como navios.
O momento singular sucedeu quando um dos nossos colegas, que almoçara com clientes em Akihabara, zona de electrónica e manga, me dizia que durante o terramoto o único pensamento que tinha era de que não queria “encontrar a eternidade” em Akihabara, território dos “geeks”, cromos e “otakus”.
Nessa hora no Japão, muitos terão pensado que chegara a hora do “big one” para o qual se tem preparado e planeado, pois o Japão é uma sociedade em que para se viver há que tomar e manter múltiplos cuidados.
Quando se constrói uma habitação há que contar com os efeitos da actividade sísmica, com os tsunamis nas linhas costeiras e com os deslizamentos de terras nas encostas das montanhas. È necessário ainda ter cuidado para que não invadam a casa as inúmeras cobras venenosas, as vespas gigantes que injectam um veneno que ataca o sistema nervoso central e provocam uma morte lenta em agonia e não esquecendo outros intrusos como ursos, macacos e lobos.
Mas o planeamento e uma atenção maior às coisas da razão, como o Padre Luis Froes afirmava, são temperadas com uma elevada sensibilidade, emotividade e sentido de estética. As condições da natureza e os espartilhos sociais inibem-nos de libertar as emoções mas a escrita marca o pensamento.
Eu penso e acredito que a determinação, a dedicação e o esforço do povo Japonês, bem como o eternamente presente espírito de Yamato irão demonstrar ao mundo que há sempre um horizonte azul, mesmo nos momentos em pensamos nada mais haver do que trevas.
Eu acredito: Gambare, Gambare, Gambare Nihon!
In Visão, 17 DE Março de 2011